Na atualidade, quando nos referimos à educação é comum ouvirmos falar em
autonomia, flexibilidade e interdisciplinaridade, mas as práticas educativas de sala de
aula não estão sincronizadas com esse ideal teórico, pois ainda encontram-se arraigadas
a dogmas, concepções e visões que impedem a escola de ser autônoma, flexível e
desfragmentada.
               
A educação escolar que temos foi sendo construída dessa forma durante séculos,
sempre atendendo aos projetos políticos de dominação das classes privilegiadas sobre a
grande massa trabalhadora. Só podemos pensar numa perspectiva de mudança radical do
sistema educacional, se realizarmos uma espécie de Revolução Socialista e estabelecermos
melhores condições de vida para as classes subalternas. A própria educação deve ser o canal
disseminador desse ideal, algo que não é tarefa fácil de ser executada, pois sabemos que
lutar por essa possibilidade é bater de frente com uma estrutura cultural antiga e forte.
Reconhecer essa fortaleza para lutar contra a mesma, imbuídos do sentimento de liberdade
e respeito pelo ser humano é o maior desafio encontrado por aqueles que verdadeiramente
pensam, agem e almejam construir uma sociedade mais humana e menos egoísta.
               
"Só um homem consciente de sua história pode lutar pelo que é seu" - Hélio
de Melo. Ativar essa consciência na mentalidade de qualquer cidadão é tarefa da educação
que ao nosso ver não está conseguindo firmar-se naquilo que lhe é peculiar. O presente
trabalho tem como finalidade despertar a conscientização em todos aqueles envolvidos no
processo ensino-aprendizagem, principalmente, mostrar que é na historicidade das pessoas
simples, ou seja, na história dos trabalhadores que reside a construção de toda humanidade.
É necessário que os mesmos possam dar conta da sua importância social e cultural, e assim,
reconhecer e valorizar as raízes culturais no sentido de tornar-se agente transformador
e abrir novos horizontes e perspectivas de uma vida mais digna.
               
Como sabemos, a arte popular possui uma diversidade de conteúdos, temas e
autores que julgamos não ser possível dar conta de toda essa amplitude em nosso estudo, por
isso restringimo-nos a pesquisar, debater e opinar sobre o uso da literatura popular em sala
de aula, nas escolas da região, no período correspondente aos últimos quatro anos,
1998/2001.
               
Através dos debates, dos seminários e das aulas que ministramos sobre literatura
popular escrita (Literatura de Cordel), oral (contos, relatos históricos, cantigas, etc.),
constatamos que a mesma, apesar de não ser muito utilizada nas escolas, desperta a
curiosidade e a discussão entre os estudantes sobre os mais variados assuntos educativos. A
participação e o envolvimento, por parte dos alunos com as aulas, torna-se bem maior do que
a habitual. Isso nos ofereceu o ânimo necessário para realizarmos o presente trabalho,
visando apresentar alternativas e novas opções de ensino-aprendizagem.
               
A memória coletiva popular expressa valores, acontecimentos, fatos e situações
que são vivenciados e reelaborados quotidianamente pelos grupos sociais, constituindo
assim, a identidade cultural dos mesmos.
               
Partindo desse pressuposto, percebemos que a educação formal tem estado distante
desses valores e acontecimentos na medida que privilegia os conteúdos de visão elitista dos
livros didáticos, que em sua grande maioria, oferecem textos carregados da ideologia
dominante sem nenhuma identificação com a realidade econômica social e histórica do povo.
Essa postura unilateral e antidemocrática por parte da educação é uma das causas da falta de
interesse dos nossos educandos pela escola, e ainda participa do processo de desvalorização
das práticas culturais dos grupos sociais das várias regiões do país. Devemos perceber
a importância de cada grupo social, com suas peculiaridades inerentes.
               
Pautado nessas considerações o referido trabalho, visa deixar uma simples
contribuição no sentido de apresentar sugestões que possam vislumbrar novas formas de
ensino-aprendizagem, considerando o valor, e o espaço que as manifestações populares vêm
ocupando nas escolas da região, com exclusividade no Ensino Fundamental, observando a
possibilidade de tornar a arte popular mais presente na vida escolar. Valorizar a produção
oral e escrita popular como algo fundamental na historicidade e na identidade cultural dos
grupos sociais, é um desafio não só para os educadores, mas sim, para todos os membros de
cada grupo social. Defendemos o direito que o povo tem de expressar o que vê, o que sente
e o que sabe, independentemente da forma, se oral ou escrita, se popular ou erudita.
               
Pretendemos, através deste trabalho, mostrar uma realidade e a partir desta
empreender novas pesquisas e novos projetos no intuito de fazer valer a importância da
espontaneidade e da liberdade de criar e de expressar o conhecimento comum, informal e,
posteriormente, começarmos a explorar, também o estudo formal.