Literatura de Cordel
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Bandeira da Paraíba
Monografia
Autor: Valentim Martins Quaresma Neto

Capa
    Dedicatória
    Sumário
    Apresentação
Capítulo I   Capítulo II   Capítulo III   Capítulo IV   Capítulo V   Anexos

CAPÍTULO III

3. SERTÃO: ASPECTOS FÍSICOS, ECONÔMICOS E SOCIAIS

                Assim como o nordestino demonstra grande felicidade quando chegam as primeiras chuvadas no Sertão, e cantando vai ao roçado com o sorriso estampado no rosto, ele entristece e murcha junto com as plantações nos períodos da estiagem.

                O sertão nordestino torna-se um lugar adverso à vida nos períodos de seca causticante, proporcionando sérios prejuízos para a economia, e conseqüentemente, para a sobrevivência do povo, mas quando chegam os períodos chuvosos tudo se transforma: o aspecto mórbido e macabro da estiagem sede lugar a uma vicissitude ímpar, a paisagem ondulada com sua diversidade na fauna e na flora faz do sertão nordestino um dos lugares mais bonitos do mundo. Sobre esses momentos tão distintos que o povo vivenciou, em diferentes épocas, e continua vivenciando existe uma grande produção cultural oral e escrita que a população nordestina necessita conhecê-la melhor.

                Esta produção literária apresenta peculiaridades de atitudes e comportamentos do homem nordestino que às vezes age semelhante ao clima, mas a sua identidade cultural é o seu patrimônio maior, e deve ser encarada como tal.

                A continuidade dessas significativas manifestações depende da ação daqueles que valorizam e sabem da importância da permanência da tradição cultural para um povo. Uma vez que na atualidade há uma espécie de complexo de interioridade cuja cultura dos grandes centros urbanos tende a menosprezar tudo que é do interior, por conseguinte, super valorizar as formas de expressão das regiões metropolitanas que geralmente importaram parte de sua cultura do exterior.

                O processo de aculturação, desencadeado pelos meios de comunicação de massa, visa descaracterizar e desvalorizar as formas simples de manifestações do povo, instituindo valores extra culturais como verdades prontas, elegendo a orgia e o nudismo como as grandes máximas dos dias atuais.

                E a escola, por sua vez, ao invés de opor-se a tais idéias, tem reproduzido ao longo do tempo, quase que na íntegra, a ideologia do sistema. Não pretendemos com isso, defender um falso moralismo, mas sentimos que não podemos ficar inertes, pois somos parte desse universo cultural, formadores de opiniões e sabemos que a acomodação, a falta de questionamento, a perda da identidade cultural vem causando um enorme prejuízo, no que se refere ao exercício da cidadania e a participação popular na vida e nas decisões políticas e administrativas dessa imensa nação.

                O atraso e abandono proporcionado pelas autoridades governamentais para com a região nordestina contribuem decisivamente para o agravamento das condições de vida do povo. Atraso devido à falta de uma política agrícola com assistência técnica e métodos práticos de irrigação, bem como, financiamento e garantia do valor da produção, enfim, um serviço que possa atender aos anseios daqueles que desenvolvem apenas a agricultura familiar e constituem a grande massa trabalhadora do Nordeste rural e agrário, incluindo aí, grande parte dos habitantes das pequenas cidades que quando não está vinculada às prefeituras municipais, faz parte dos rurícolas desassistidos. Abandono porque não existe em todo o Nordeste e em quase todo o país uma política séria de saúde, educação, saneamento e habitação. O que existem são pessoas inescrupulosas a frente do poder, fazendo toda sorte de falcatruas, tornando o dinheiro público uma verdadeira máquina de enriquecimento ilícito, e um povo prostituído pela alienação ou pela falta de conhecimento e de educação cidadã, sem coragem de encarar os poderosos de frente através das lutas sociais, sem força para reforçar sindicatos, associações e outros organismos sociais que podem promover a união dos grupos, das várias tendências e ajudar no combate aos corruptos.

                Diante de tais problemas, o povo nordestino, sobrevive a duras penas, e as questões culturais e educacionais ficam sempre em segundo plano. A luta permanente é para manter-se vivo e fazer ao menos uma ou duas refeições diárias. Enquanto não evoluirmos em qualidade de vida, não teremos a mínima chance de crescermos em qualidade de ensino. Na situação social que nos encontramos, devemos fazer algo para, no mínimo, manter a chama da educação acesa e não deixar que a mesma chegue a apagar-se.

                A escola é um dos caminhos que aponta para a transformação, mas da forma como foi construída ao longo da história e da maneira como está sendo conduzida, pouco ou nada está contribuindo para uma melhoria social. O povo necessita de uma educação mais palpável, mais real e mais humana. Em cada estabelecimento de ensino deveriam funcionar vários tipos de oficinas, tais como: carpintaria, mecânica, eletrônica, técnicas agrícolas, música, leitura, literatura, artes cênicas, artes visuais, etc., para oferecer ao educando opções de trabalho e de aprendizagem e fugir do dia-a-dia conteudístico e formal que as escolas apresentam atualmente. Se não temos o que foi supracitado, a culpa recai sobre a elite dominante que elabora os projetos educacionais com intenções de perpetuar a dominação, por isso, as formas ilusórias e mirabolantes de se projetar a educação não atendem as expectativas do povo. Mas, apesar de tudo, há a possibilidade de romper com essas estruturas, tomando atitudes inovadoras, mesmo que com grandes dificuldades, tanto de ordem financeira, como enfrentado aqueles que insistem em dizer que nada adiantará e que tudo está perdido, pois já assimilaram a ideologia dominante e agora colocam-se a serviço da mesma, numa tentativa de salvar a própria pele. É a chamada pedagogia tradicional que é uma verdadeira pedra no caminho daqueles que sonham com uma renovação nas atitudes e procedimentos de ensino.

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