Boa noite,
Sou jornalista e estou escrevendo uma matéria sobre literatura de cordel. Será
que você poderia responder algumas perguntas?
Obrigada! rmdonno@yahoo.com.br
Roberta
Mirian dos Santos de Donno
1- Qual sua profissão?
Cordelista
e professor de educação física da rede municipal de Santa Rita-PB, cidade da
região metropolitana da Grande João Pessoa.
2- De que parte do Brasil você é?
Da
cidade de Santa Helena, sertão paraibano, situada a aproximadamente
3- No que consiste o Projeto
Cordel na Escola?
O
Projeto Cordel é um trabalho desenvolvido nas escolas públicas e
particulares de Santa Rita-PB, João Pessoa-PB, Bayeux-PB, bem como em universidades, teatros,
praças, feiras livres, clubes, ambientes culturais em geral e na internet
através do site www.projetocordel.com.br
O objetivo principal é contribuir para a divulgação e valorização do folheto de
cordel. Percorremos todos estes lugares, além de participar, vez ou outra, de
programas de rádio e tv na tentativa de darmos nossa
colaboração para a conscientização do povo sobre a riqueza da nossa poesia
popular.
Nas apresentações realizadas, que duram entre 50 min e 2h, fazemos exposição
sobre um pouco da história do cordel; mostramos como se escreve um texto
obedecendo a métrica, ou seja, principalmente os
versos com
No
ano de 2007, através do Fundo Municipal de Cultura da cidade de João Pessoa
levamos o Projeto Cordel para 48 escolas municipais e distribuímos
24 mil exemplares gratuitamente aos alunos. Em 2006 iniciamos Projeto Cordel com
o grupo de música regional nas escolas municipais de Santa Rita-PB. Em 2005
visitei 28 escolas municipais de Bayeux-PB
ensinando aos alunos a produzirem estrofes de cordel. Alguns folhetos
realizados com os alunos estão expostos no site. Em 2003, visitei 189 escolas
estaduais de João Pessoa, creches e entidades culturais da Paraíba, através do
patrocínio de uma lei de incentivo à cultura do Estado, distribuindo uma
coletânea de 20 folhetos (meus e do meu parceiro Valentim Quaresma). Do ano
2000, quando comecei o Projeto Cordel, até hoje, já percorri mais de 300 salas
de aula divulgando a literatura de cordel. Gravei 3 cds, em 2003, 2004 e 2006. Provavelmente em 2009 lançaremos
o novo cd. Acredito que o maior êxito do nosso trabalho é o sucesso do site que
temos na internet desde 2001, que até o presente momento já recebeu mais de 185
mil visitantes.
4- Você defende a
transformação do cordel em veículo de comunicação de massa. De que forma você
acha que isso pode se realizar? Você acha que isto banalizaria a literatura de
cordel ou a democratizaria, promovendo inclusão social?
Como
escrevi em 2002 “... a literatura de cordel só poderá se transformar numa
cultura de massa a partir do momento em que a escola passar a estimular o seu
uso, ou seja, a comunidade escolar (alunos, professores, funcionários) adotar o
hábito da leitura. Quando a escola procurar conscientizar a todos da real
necessidade de se preservar o cordel enquanto saber histórico, estaremos
caminhando em direção a sua revitalização.” Aliado à escola é preciso que
ocupemos o espaço da mídia, entretanto isso não é muito fácil, pois a maior
parte da mídia não tem interesse em valorizar a autenticidade da nossa cultura.
Para comprovar esta tese basta que olhemos a programação veiculada pelas
grandes empresas de comunicação do país. O cordel pode ser banalizado ou
deturpado, como aconteceu com o nosso forró, que foi usado por empresários
corruptos e transformado em forró de “plástico”. Mas iremos resistir, como
resistimos defendendo o forró pé de serra. Se o cordel começar a ser vendido em
grande escala poderemos enfrentar modificações, ou
tentativas de modificações dos empresários que expõem a cínica retórica de
adaptação aos novos tempos ou para atender ao interesse do mercado ou ao
interesse de uma juventude que não gosta de ler e nem de refletir o mundo. Corremos
riscos, entretanto se a base da veiculação do cordel for a
escola e, principalmente, se houver um trabalho contínuo de defesa da sua
tradição, nós iremos manter o legado de Leandro Gomes de Barros. E com isso
teremos, obviamente, o aumento de cordelistas, de renda e de todo um mercado
que gira em torno do folheto, como gráfica, desenhistas, lojas de venda,
distribuidores, etc.
Se
o governo brasileiro adotasse uma política de valorização do cordel teríamos um
produto de exportação valioso. Era só o MEC adquirir títulos dos mais diversos
autores e distribuir em todas as escolas públicas do país. Era só o MINC e o
Ministério do Turismo investirem em exposição de
cordel e cordelistas em aeroportos, portos, agências de viagens, hotéis,
pousadas, em eventos no Brasil e no exterior, enfim investir na literatura de
cordel. É preciso querer, agir, ter uma visão nesse sentido de transformar a
nossa cultura em patrimônio da humanidade, não apenas em título burocrático,
mas em valorização real de uma arte que não existe em outro lugar do mundo.
Francisco
Diniz, João Pessoa, 15
de Outubro de 2008 21:47:20