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Excertos

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Excertos dos Cordéis Capoeira e Zumbi

Autor: Francisco Diniz


Quem inventou a escravidão Foi uma alma pervertida Que viu também nesse chão Toda sua obra cumprida: Negro sofrendo maus-tratos Ao longo de sua vida. O negro vivia na África Quando era capturado Vinha em navio negreiro No porão acorrentado Viver como estrangeiro, Cativo e humilhado. Negro vinha de Angola, Colônia de Portugal Que estava situada Na Costa Ocidental Da África, a terra mãe, Um imenso matagal. Longe da terra natal O negro foi conduzido Pra crescer canavial Ter seu mundo esquecido Pra fazer rico de engenho Aumentar o produzido. Sofria grandes maus-tratos Depois de capturado Era pego em armadilha Logo estava acorrentado Nem ele, nem a família Nunca eram respeitados. 1 Atravessava o mar Na agonia do porão Do triste navio negreiro Chorando sem solução Deixando tudo pra trás Sua vida e sua nação. Tanta gente pereceu Na imundície dos porões Que sempre vinham lotados Para enriquecer aos patrões E aqueles que morriam Jogavam pros tubarões. Sobrevivendo à passagem Do grande Oceano Atlântico Chegava triste e faminto Num clima nada romântico Cansado e sonolento Não tinha ao menos descanso. Do cais ia pro valongo Por um mercador levado Lá olhavam corpo e dentes Depressa era comprado Separado dos parentes E a uma fazenda mandado. Senhor de engenho pagava Muito caro por escravo Por uma triste razão Que me deixa muito bravo Dos que entravam no porão Só a metade era salvo. 2 Chegando lá na fazenda Renegado a triste sorte De viver só na labuta De servir até a morte E tendo que enfrentar A ira, a fome e o chicote. O escravo era tido como Bicho ou mercadoria Na África, negro era livre Com grande sabedoria Vivia em comunidade Repartindo o que existia. Trazido para a lavoura, Pra cana, mineração. Cuidava da casa grande, Do café, do algodão. Triste sina de escravo Sem ganhar nenhum tostão. Por trabalhar tanto assim De sol a sol com castigo Só vivia uns dez anos Explorado e tendo o abrigo Da senzala sem conforto E o feitor como inimigo. As vezes queria a morte A viver escravizado O banzo chegava forte Deixando o escravo calado Ou murmurando nos cantos Pensando no seu passado. 3 Apesar do sofrimento Da angústia da escravidão Ainda encontrava tempo Pra lembrar da sua nação E assim fazia festa Com canto, dança e oração. Os momentos de lazer Tinham a finalidade De espantar a tristeza E relembrar com saudade A terra natal, distante E esquecer toda a maldade... ...Do tronco, das chicotadas; Esquecer do alarido Dos velhinhos, das crianças, Das mulheres, dos maridos, Dos jovens sem esperança Num mundo triste, sofrido. E assim ao som de tambores, De chocalho, de pandeiro Da senzala veio a semente Da música que o brasileiro Hoje canta alegremente No país e no estrangeiro. O samba nascia assim Outros ritmos brotaram Maracatu, boi-bumbá E o pagode inventaram Maculelê e ciranda, Tradições que já vingaram. 4 Os hábitos alimentares Que o escravo introduziu No cardápio dos senhores Uma mudança produziu E hoje os seus valores Encantam todo o Brasil. Vejam só a feijoada Com couve e preto feijão Farinha de mandioca, Tempero e do leitão Pedaços de carne seca Que não serviam ao patrão. Dos restos o negro criou Um tipo de alimento Com agradável sabor Que ajudava no sustento E hoje tem seu valor: É um nobre mantimento. Sua religião cultivava Tinha esperança e fé Envolvia-se com os mistérios Da umbanda, do candomblé Pra acabar com os impérios Dos engenhos e do café. O escravo se valia Nos instantes de oração De Oxalá, de Iemanjá Pedia sua proteção Pra livrar-se do mal-estar Do jugo da escravidão. 5 Houve muita rebeldia Na história da escravidão Em nome da liberdade Exemplos de reação Surgiram assim os quilombos Pra acudir toda a nação. O quilombo era um lugar Distante, longe de tudo Que aceitava pra morar Cego, aleijado ou mudo Preto, branco e até índio Mulher, criança e surdo. Era bem localizado Nas matas, nos precipícios, Nas serras, em terras férteis E pra evitar desperdícios Toda a produção colhida Dividida entre os patrícios. Vivia o negro na África, Seu ambiente natural, Nos idos de 1500 Quando foi vítima do mal Capturado para escravo Como fosse animal. Era levado pra longe Em navio, lá no porão Em corrente por semanas Aos montes, dormindo ao chão Comendo o que não servia A quem se dizia patrão. 6 A "carga" ao chegar ao cais Era por certo dividida Imagine a tristeza Daquela gente vendida Cada pessoa pr’ uma fazenda, A família esquecida. Trabalhava o pobre escravo Agüentando chicotadas Cana de açúcar ou lavoura E a senzala infectada Era o abrigo pro repouso Somente até a madrugada. Durante o dia, a luta Muito cansaço causava, E se não agrada o serviço Ia ao tronco e apanhava; O alimento que comia: Lavagem que o rico dava. O sistema escravocrata A raça negra humilhava, Pessoas da mesma língua Ele ligeiro apartava, Pois sem comunicação Não haveria rebelião Era o que se pensava. Castigado por chicote Pela mão do opressor Os negros tinham no peito A marca de uma triste dor, De revoltas e a certeza De que não tinha valor. Mas o negro não se cala E decide então fugir Pros quilombos afastados Ser feliz e então sentir Que é gente de verdade E levanta após cair. 7 E mesmo subnutrido, Acuado e doente O negro não se entregou, Queria ser independente, Apesar das condições Mostrou-se forte e valente. Reagiu de várias formas Contra a escravidão, Fugia sem ter certeza Se ia dar certo ou não; As vezes se suicidava Ou matava o patrão. Nas fugas desesperadas, Buscando se proteger, O quilombo era o caminho, O lugar pra se viver, O sonho da liberdade E a tristeza esquecer. Uma importante arma Pra escapar do feitor E do capitão do mato, Da senzala e do senhor, O negro aqui no Brasil A capoeira inventou. A capoeira é arte, Cultura, filosofia, Folclore, educação, Esporte, é harmonia, Fonte de inspiração De quem cultiva poesia. É também uma bela dança, Balé, luta, ginástica, História, ideologia, É movimento, é plástica, Um jogo malicioso, Fere como soda cáustica. Mas, uma linda brincadeira Nuance pra todo astuto E serve pra modelar Tronco, membros e até busto Promove saúde, bem-estar E hoje na história é vulto. 8 Fim


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Feito com Mobirise - Sistemas: Francisco Diniz.  Adaptado de Cesar Szpak Celke e de NodeStudio